quinta-feira, 7 de julho de 2011


1º Prémio Tricana / FBAUL - Concurso de Tapete Contemporâneo 
A peça será produzida e comercializada  em forma de tapeçaria 
pela Tricana - Tapeçaria Regional de Coimbra, S. A.



Ichthys
Tapeçaria em trapilho, tecidos variados e madeira
68 x 134 cm
2010



LINK: http://www.fba.ul.pt/portal/page?_pageid=401,1383987&_dad=portal&_schema=PORTAL


Memória descritiva:
Ao longo de três anos tenho vindo a colocar na tela, e nesta excepção em tapeçaria, os registos temáticos de uma arte religiosa – exclusivamente cristã – que durante tantos séculos predicou efusivamente, sobretudo na Europa. O meu objectivo em nada tem sido o de pregar ou criticar, mas sim o de criar um jogo interminável e construtivo de reconhecimentos temáticos, um jogo de reconhecimento moral, trazendo temas ancestrais como o da Crucificação, o da dor da Pietá ou o da Descida da Cruz para contextos confusos urbanos, familiares, e acima de tudo pessoais.
A tapeçaria surgiu em feliz acaso no meu percurso académico, e com a vontade de a interligar tematicamente com a restante pesquisa, surgiram as dificuldades. A minha pouca maturidade neste ramo da Arte forçou-me a pensar em soluções plásticas de uma síntese muito diferente daquela que normalmente utilizo – em escassez – na pintura. Esta simplificação trouxe com ela a pureza formal – e, atrevo-me a dizer, a espiritualidade pura; como tal, recorri à Arte primordial cristã, também ela pura e simples. O peixe foi o elemento escolhido, Ichthys, em grego acrónimo de Iesus Christus Theou Yicus Soter - Jesus Cristo filho de Deus Salvador.
Funcionava, nos primeiros séculos do primeiro milénio d.C, como símbolo: para que um cristão reconhecesse outro, desenharia um arco na areia e esperaria que o outro desenhasse um arco ao contrário, formando a figura de um peixe. Agora surge aqui como figura estranha que não reconhecemos bem, da riqueza dourada e intrínseca que caracteriza uma Igreja com cerca de 2000 anos de poder.
Inicialmente esta tapeçaria seria tripartida, e não bipartida (como agora a apresento), como analogia ao número místico 3 – da Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo. No entanto, a peça ganhou outra conotação mais interessante com a subtracção de uma das partes. O olhar foca-se agora na sua abertura central, no ‘algo’ que parece faltar ao centro, nessa tensão entre as duas partes rigidamente ligadas pelos aros metálicos.
Mais não adianta dizer acerca desta tapeçaria, de seu centro numa vasta moldura cor-de-terra de características horizontais – curiosidade tão terrena numa peça tão espiritual - restando por último a nossa cognição, quando a Arte anteriormente já se encarregou de mostrar, ensinar, demonstrar, virar e revirar, revoltar e ignorar.


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